Histograma da vida

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Há um sítio onde não há luz

Nem escuridão
Exactamente a meia distância entre os dois
Talvez seja mais um buraco
Revestido por aquele cinzento de que se pinta a morte
Onde nada existe
Porque o que existe,
Existe com um pouco de luz ou um pouco de escuridão
Ou um pouco dos dois.
Ninguém fica nos mesmos tons por muito tempo
Andamos sempre a dançar entre eles
Boas notícias para aqueles que dançam bem.
Os patudos e os desajeitados volta não volta tropeçam
E vão cair num outro tom qualquer que não o desejado.
Aqueles que se recusam a dançar e se sentam no chão
Acabam sempre magoados por um pé com menos doce
Ou são chutados para o canto escuro da sala.
Há quem fique por lá
Na verdade acumulam-se por lá
Como uma versão mais mórbida de uma pilha de folhas outonais.
Eu não gosto muito de concentrações de pessoas
Por isso não paro lá muito tempo.
Eu sou mais bailarina de banheira
Tal como há os cantores de banheira, percebem?
O problema é quando o banho acaba
Às vezes não tomo atenção à minha consistência
E acabo dissolvida na água que vai para o ralo
Juntamente com a espuma do sabonete
E eu odeio o sabor do sabonete.
Mas acontece.
Dou por mim drenada para aquele buraco do meio tom
É o esgoto da vida.
Não cheira mal
O cheiro é uma coisa que existe
E aqui nada existe
Nem mesmo eu.
(Tirem-me daqui!)

Texto e Fotografia por MewSa

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